Carta 240

02/07/2013 17:14

DATA DA PUBLICAÇÃO: 14/6/2012

 

De: JOÃO

Para: Site Celeiros

Data: 26 de abril de 2012 09:43

Assunto: A unção do Pastor

 

Pr. Solon, estou precisando de ajuda! tenho uma dúvida no final da carta sobre a benção da unção para se tornar Pastor.

Um breve resumo da minha situação:

1- Meu nome é JOÃO, (...) anos, já nasci dentro da ICM, vivi toda minha vida em Vila Velha-ES, porém há 5 anos estou na cidade de (...)-ES.

2- Sempre membro ativo (obreiro, louvor, grupo de intercessão, etc...) e Deus sempre fala comigo, inclusive há 3 anos eu venho tendo sonhos para eu me desligar da igreja.

3- essa semana me desliguei da ICM após (...) anos (toda minha vida), os motivos são óbvios (não concordo com varias praticas e doutrinas, não vou me alongar aqui hoje.)

4- eu entendo pelo o que o senhor já me mostrou (sem nenhuma soberba), que eu tenho um chamado para o ministério, inclusive os irmãos da ex-igreja testificam disso.

Visitei algumas denominações na minha cidade e conversei com alguns pastores (batista, assembleia, etc..), cheguei a uma conclusão:

Não me Encaixo em Nenhuma delas!!!    Todas aqui da cidade tem coisas graves que não concordo!

Agora minhas perguntas para o Sr:

1- pela bíblia só posso ser um Pastor, se outro pastor me ungir???

2- e na prática, como hoje no Brasil os Pastores são levantados em outras denominações???

3- se Deus me deu entendimento para servi-lo de uma outra forma e não achei na minha cidade um lugar que tem essa forma, será que Deus então quer que eu abra uma nova igreja, onde eu tenha a possibilidade de aplicar aquilo que Deus tem me ensinado? Se for isso por onde começaria?  Não sei nada sobre leis e tudo mais nesse sentido.

Sinceramente, estou me sentindo muito sozinho, principalmente agora que vou ser tachado de Caído e tudo mais... não achei ninguém pra chorar comigo e minha esposa aqui...

Obrigado pela atenção.

JOÃO – (...)

(27) (...)

          

 

De: Site Celeiros

Para: JOÃO

Data: 14 de junho de 2012 04:12

Assunto: Re: A unção do Pastor

Prezado irmão JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja com toda a sua casa.

Perdoe-me pela demora da resposta.

De início, posso saudá-lo pelo seu desejo de desenvolver o ministério pastoral. Como você deve saber, a pretensão de trabalhar para Deus no atendimento ao interesse e às necessidade de outras pessoas é uma aspiração excelente e exige abnegação, espontaneidade, boa vontade, conforme se vê nos textos a seguir:

“Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja.” (1 Timóteo 3:1 RA)

“1 Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo, e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: 2  pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; 3  nem como dominadores dos que vos foram confiados, antes, tornando-vos modelos do rebanho.” (1 Pedro 5:1-3 RA)

Essa é a primeira observação que eu faço. Se você quer trabalhar pelo seu bem estar, pelo seu sucesso pessoal, por seus próprios interesses, para satisfazer sua vaidade ou por desejo de reconhecimento diante dos homens, dedique-se a outro tipo de atividade.

Nenhum mal há em se viver uma vida cristã equilibrada sem o desejo de se dedicar a um ministério. Conheço muitas pessoas que estão sempre aprendendo e praticando os ensinamentos de Jesus, mas não sentem desejo de serem pastores.

Pense bem nisso, pois é muito mais fácil ser um bom cristão do que ser um bom pastor, pois este tem muito maior conta a prestar ao Senhor. Medite nos textos a seguir:

“Aquele, porém, que não soube a vontade do seu senhor e fez coisas dignas de reprovação levará poucos açoites. Mas àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão.” (Lucas 12:48 RA)

“Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto não aproveita a vós outros.” (Hebreus 13:17 RA)

“2 Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas? 3  Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. 4  A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza.” (Ezequiel 34:2-4 RA)

“1 Ai dos pastores que destroem e dispersam as ovelhas do meu pasto! — diz o SENHOR. 2  Portanto, assim diz o SENHOR, o Deus de Israel, contra os pastores que apascentam o meu povo: Vós dispersastes as minhas ovelhas, e as afugentastes, e delas não cuidastes; mas eu cuidarei em vos castigar a maldade das vossas ações, diz o SENHOR.” (Jeremias 23:1-2 RA)

Querido, preste muita atenção no que vou lhe dizer: não se iluda com suas realizações enquanto obreiro, diácono ou pastor da Igreja Cristã Maranata. Isso pouco lhe aproveitará em um ministério independente. Por trás de um obreiro ou um pastor da ICM existe toda uma estrutura que você não terá se resolver iniciar um trabalho novo. Considere isso, pois uma igreja não se mantém apenas com “bons cultos”. É preciso muito mais que isso.

Mas, não quero desanimá-lo. Se você sente que tem um chamado especial de Deus e crê que consegue fazer um trabalho sem os defeitos que você identificou em todas as igrejas que visitou, só me resta desejar-lhe sucesso.

Bom, antes de responder objetivamente suas perguntas, permita-me trazer algumas definições que julgo importantes.

Os termos “bispo”, “pastor” e “presbítero” são sinônimos. Vou destacar apenas algumas diferenças que tiramos dos contextos em que estão postos os textos com essas referências.

Bispo: significa “supervisor” e era uma atividade comumente exercida pelos presbíteros da igreja.

Presbítero: é a tradução do termo grego presbutes, que significa “um ancião”, ou homem idoso. Por isso, entendemos que um presbítero é um homem maduro, experiente e sábio.

Pastor: é aquele que cuida do rebanho, provendo-lhes as necessidades. No Velho Testamento é um termo utilizado de modo figurado em relação àqueles que têm que zelar pelo povo de Deus, a exemplo dos reis, juízes ou simplesmente dos governantes. Na Nova Aliança, fora as referências a Jesus, só encontramos o termo “pastores” uma única vez (Ef 4:11) significando a relação entre o povo e seus servidores.

Apóstolo: título concedido exclusivamente àqueles que testemunharam todo o ministério de Jesus, a exceção de Paulo, que o recebeu extraordinariamente, senão vejamos:

“15 Naqueles dias, levantou-se Pedro no meio dos irmãos (ora, compunha-se a assembléia de umas cento e vinte pessoas) e disse: 16  Irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi, acerca de Judas, que foi o guia daqueles que prenderam Jesus, 17  porque ele era contado entre nós e teve parte neste ministério. (...) 20  Porque está escrito no Livro dos Salmos: Fique deserta a sua morada; e não haja quem nela habite; e: Tome outro o seu encargo. 21  É necessário, pois, que, dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, 22  começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição.” (Atos 1:15-22 RA)

“Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor?” (1 Coríntios 9:1 RA)

Paulo, servo de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo, separado para o evangelho de Deus,” (Romanos 1:1 RA)

Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes,” (1 Coríntios 1:1 RA)

“Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos,” (Gálatas 1:1 RA)

“Para isto fui designado pregador e apóstolo (afirmo a verdade, não minto), mestre dos gentios na fé e na verdade.” (1 Timóteo 2:7 RA)

Agora, vou tentar responder suas perguntas.

“1- pela bíblia só posso ser um Pastor, se outro pastor me ungir???”

Amado, você já olhou na bíblia como os homens eram chamados ao ministério?

Faça uma busca apurada e verá que os presbíteros nunca se autonomearam. O fato de termos hoje em dia pessoas que se autopromovem a pastores e afirmam possuir um chamado especial de Deus, não significa que tal atitude encontre amparo nas escrituras sagradas. Não estou questionando a unção de ninguém. Estou apenas dizendo que não encontro fundamento bíblico para coisas desse gênero.

Note, querido, que a palavra de Deus nos dá poucos exemplos acerca da escolha de presbíteros.

O primeiro, indicando uma prática das igrejas, refere-se à escolha dos presbíteros por eleição, conforme vemos a seguir:

“E, promovendo-lhes, em cada igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomendaram ao Senhor em quem haviam crido.” (Atos 14:23 RA)

Note que, neste exemplo, os presbíteros eram eleitos e depois apresentados ao Senhor (encomendados ao Senhor), mostrando que a escolha da igreja era posteriormente submetida a Deus.

Na minha condição de fé, idealizando uma igreja madura e responsável, cujo Espírito Santo de Deus influencie e confirme as escolhas, vejo que o texto a seguir complementa o primeiro, senão vejamos:

“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue.” (Atos 20:28 RA)

Por fim, nas cartas de Paulo a Timóteo e a Tito, parece-me claro que a confirmação (constituição de fato) de um ministério cabe a um pastor que tenha sido anteriormente comissionado por um presbitério ou designado por alguém que lhe seja superior para tal tarefa por um presbitério.

No texto a seguir vemos que Paulo (apóstolo) comissionou Tito (presbítero) para constituir novos presbíteros em determinadas igrejas:

 “Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi:” (Tito 1:5 RA)

Ao escrever para Timóteo, Paulo deixa evidente que o chamado de Timóteo foi conduzido pelo Espírito Santo de Deus e confirmado pela imposição de mãos de um grupo de presbíteros.

“Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério.” (1 Timóteo 4:14 RA)

Na mesma carta Paulo define as características exigíveis de um candidato a bispo. Do ponto de vista moral o bispo teria que ser irrepreensível e não avarento. No aspecto social ele deveria ser hospitaleiro e de bom testemunho. No quesito familiar era necessário que fosse esposo de uma só mulher e que tivesse seus filhos em submissão e respeito. Do ponto de vista comportamental o bispo teria que ser temperante, sóbrio, modesto, cordato, inimigo de contendas, não beberrão e não violento. Também, deveria ter qualidades administrativas (experiente e que saiba governar) e intelectuais (apto a ensinar), pois nem todos que detêm bom nível cultural e de conhecimento possuem habilidades para administrar e para ensinar.

“2 É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; 3  não dado ao vinho, não violento, porém cordato, inimigo de contendas, não avarento; 4  e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito 5  (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?); 6  não seja neófito, para não suceder que se ensoberbeça e incorra na condenação do diabo. 7  Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo.” (1 Timóteo 3:2-7 RA)

Estabelecidos os critérios para a eleição de um bispo (presbítero), Paulo, em trecho da mesma carta, ao tratar especificamente do ministério dos presbíteros, ensina a Timóteo que o ato de impor as mãos (confirmar ao ministério) não poderia ser precipitado, provavelmente referindo-se à prévia e necessária observância dos quesitos morais, sociais, familiares, comportamentais, administrativos e intelectuais antes referidos, sob pena dele tornar-se cúmplice dos pecados daquele que ele mesmo separou para o ministério.

“17 Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino. 18  Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário. 19  Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas. 20  Quanto aos que vivem no pecado [presbíteros], repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam. 21 Conjuro-te, perante Deus, e Cristo Jesus, e os anjos eleitos, que guardes estes conselhos, sem prevenção, nada fazendo com parcialidade. 22  A ninguém imponhas precipitadamente as mãos. Não te tornes cúmplice de pecados de outrem. Conserva-te a ti mesmo puro.” (1 Timóteo 5:17-22 RA)

Ao fim, é importante observar que em todos os casos não há indicativos de que um presbítero não emergisse da própria congregação a que ele já servia ou que pudesse invocar, por si e para si mesmo, o ministério.

Com base nos textos bíblicos referidos é impossível aceitar a invocação autônoma e independente para o exercício do ministério. Isso porque o presbítero deve ser eleito pela igreja a qual pertence, constituído pelo Espírito Santo e confirmado pela imposição de mãos de um presbitério ou por alguém comissionado para tanto. E isso somente após ter sido examinado segundo os critérios definidos pela palavra de Deus e aprovado por alguém que lhe seja superior.

“2- na prática, como hoje no Brasil os Pastores são levantados em outras denominações???”

O que eu normalmente tenho visto é a prática do levantamento de pessoas escolhidas no seio da própria igreja a que o candidato pertence. Não posso negar que conheço pastores que me parecem não preencher os requisitos estabelecidos na palavra de Deus, mas como Paulo advertiu a Timóteo, quem levanta ao ministério precipitadamente um homem inapto, torna-se cúmplice de seus pecados, pois indiretamente está afetando a igreja que ele deveria cuidar, edificar e proteger.

A propósito, mesmo sabendo que os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis (Rm 11:29), creio que no momento em que um presbítero se afasta dos requisitos estabelecidos na palavra de Deus, observada a devida prova testemunhal, deve se sujeitar à repreensão para o seu próprio bem e correção.

19  Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas. 20  Quanto aos que vivem no pecado [presbíteros], repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam. 21 Conjuro-te, perante Deus, e Cristo Jesus, e os anjos eleitos, que guardes estes conselhos, sem prevenção, nada fazendo com parcialidade. 22  A ninguém imponhas precipitadamente as mãos. Não te tornes cúmplice de pecados de outrem. Conserva-te a ti mesmo puro.” (1 Timóteo 5:17-22 RA)

Em momento algum a palavra de Deus diz que alguém pode perder a unção, os dons ou os talentos dados pelo Senhor. Entretanto, nos ensina a não ocultar o pecado de nenhum presbítero. Ora, se foi Deus quem deu, somente Ele pode tirar, mais ninguém. Da nossa parte, tudo o que podemos fazer quando sabemos que um presbítero está em pecado é levantar provas claras e, diante de testemunhas dos demais presbíteros, repreender o acusado, para que haja lugar de arrependimento, perdão e restauração.

3- se Deus me deu entendimento para servi-lo de uma outra forma e não achei na minha cidade um lugar que tem essa forma, será que Deus então quer que eu abra uma nova igreja, onde eu tenha a possibilidade de aplicar aquilo que Deus tem me ensinado?    se for isso por onde começaria?    não sei nada sobre leis e tudo mais nesse sentido.

Como eu disse no início, não vejo nenhum mal em se viver uma vida cristã equilibrada e trabalhar em prol do corpo de Cristo, ajudando, ensinando, compartilhando e edificando as pessoas. Para isso, não é essencial um título de pastor. Você pode prestar um serviço cristão onde quer que você esteja.

Se você tem um conteúdo a transmitir, nada o impede de fazê-lo. Entretanto, invocar um ministério independente, a meu ver, é uma precipitação. Quem o supervisionará? Quem o ajudará? Quem o exortará quando você tropeçar? Quem o ouvirá nos momentos de cansaço e fraqueza?

Amado, pense bem. Os presbíteros mencionados no Novo Testamento eram homens de caráter imaculado, irrepreensíveis e não pessoas extraordinariamente talentosas. Eram servos que aprenderam a liderar servindo aos outros e não administradores segundo os conceitos da administração moderna. Os presbíteros eram exemplos para o rebanho e não senhores sobre ele. Eram facilitadores e não tiranos; pais e não déspotas. Eram cuidadores do rebanho e não violadores; supervisores espirituais e não pregadores profissionais. Eram homens que buscavam o reino de Deus e não construir impérios. Eram cristãos comuns, servos e não ditadores. Eles não manipulavam ou aterrorizavam o povo de Deus.

Então, querido, saiba que tudo isso e as demais as características exigidas pela palavra de Deus tem que ser observadas na sua vida no meio da igreja e não será você que irá dizer que possui essas características, mas outra pessoa, pois não podemos aprovar a nós mesmos:

“Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, e sim aquele a quem o Senhor louva.” (2 Coríntios 10:18 RA)

Seja outro o que te louve, e não a tua boca; o estrangeiro, e não os teus lábios.” (Provérbios 27:2 RA)

Por fim, amado, apenas porque já estamos tratando de ministério, preciso dizer que ainda valorizo o ministério não profissional, até porque não sinto segurança em afirmar que a palavra de Deus em algum momento concordou com a exploração comercial da palavra de Deus, nem mesmo no que toca às compensações financeiras para se cuidar do rebanho.

Sei que nesse entendimento sou minoria, mas tenho alguns motivos para pensar assim. Vejamos, a seguir o texto normalmente utilizado para dar suporte ao ministério profissional:

 

“17 Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino. 18  Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E ainda: O trabalhador é digno do seu salário.” (1 Timóteo 5:17-18 RA)

Segundo entendo desse texto, os presbíteros são dignos de dobrada honra, ou seja, respeito e dignidade acima da média. Os vocábulos usados no Novo Testamento para “pagamento” e “salário” (misthos e opsonion) não constam do texto citado. A palavra grega traduzida como “honorários” foi time, que significa “respeitar”ou valorizar alguém ou alguma coisa. Esta mesma palavra é utilizada quatro vezes na primeira carta de Paulo a Timóteo. Em todos os casos, ela significa respeito. Deus deve receber honra do homem (1:17; 6:16); presbíteros devem receber honra da igreja (5:17); e senhores devem receber honra de seus escravos (6:1). Uma variação da palavra é usada por Paulo quando diz que as viúvas devem ser honradas pela igreja (5:3). Em nenhuma dessas passagens time se refere a pagamento ou salário.

Considerando, portanto, que a palavra traduzida por “honorários” significa, na verdade, honra, entendo que o texto citado nos diz o seguinte: “os presbíteros merecem receber honra dobrada por seu trabalho, assim como o boi deve receber alimento por pisar o trigo e o trabalhador deve receber salário pelo serviço prestado”.

Entendo até possível que, eventualmente, aquele que instrui os outros seja participante de algum benefício, mas não creio que isso signifique atividade profissional remunerada.

“Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui.” (Gálatas 6:6 RA)

Nesse sentido, observo que Paulo, mesmo sendo um trabalhador apostólico em tempos difíceis, nem mesmo possuindo residência permanente e emprego estável, procura dar exemplo à igreja abdicando de seu direito de ser amparado em suas necessidades básicas, senão vejamos:

“33  De ninguém cobicei prata, nem ouro, nem vestes; 34  vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo. 35  Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber.” (Atos 20:33-35 RA)

Paulo disse aos presbíteros em Éfeso que seguissem o seu exemplo. Certamente não era para que tomassem dinheiro do povo de Deus, mas que trabalhassem para se sustentar e para poder ajudar os necessitados, porque mais bem aventurado é dar do que receber.

Mas, sabemos que muitos pastores acham perfeitamente razoável rejeitar o exemplo de Paulo e viver do evangelho, mesmo possuindo morada fixa. Aqui cabe uma ressalva. Será que viver do evangelho significa desfrutar de prazeres, luxo e satisfazer vaidades pessoais às custas de pagamentos pela pregação de um evangelho que nos foi dado de graça?

“7 Cometi eu, porventura, algum pecado pelo fato de viver humildemente, para que fôsseis vós exaltados, visto que gratuitamente vos anunciei o evangelho de Deus? 8  Despojei outras igrejas, recebendo salário, para vos poder servir, 9  e, estando entre vós, ao passar privações, não me fiz pesado a ninguém; pois os irmãos, quando vieram da Macedônia, supriram o que me faltava; e, em tudo, me guardei e me guardarei de vos ser pesado.” (2 Coríntios 11:7-9 RA)

Seja como for, ainda que isso signifique apenas o mínimo para se viver com dignidade, Paulo recusou valer-se permanentemente do evangelho para dele extrair benefícios pessoais e sugere que andemos neste mesmo espírito, assim como Tito seguia seu exemplo.

“14 Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho; 15 eu, porém, não me tenho servido de nenhuma destas coisas e não escrevo isto para que assim se faça comigo; porque melhor me fora morrer, antes que alguém me anule esta glória. 16  Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho! 17  Se o faço de livre vontade, tenho galardão; mas, se constrangido, é, então, a responsabilidade de despenseiro que me está confiada. 18  Nesse caso, qual é o meu galardão? É que, evangelizando, proponha, de graça, o evangelho, para não me valer do direito que ele me dá.” (1 Coríntios 9:14-18 RA)

“13 Porque, em que tendes vós sido inferiores às demais igrejas, senão neste fato de não vos ter sido pesado? Perdoai-me esta injustiça. 14  Eis que, pela terceira vez, estou pronto a ir ter convosco e não vos serei pesado; pois não vou atrás dos vossos bens, mas procuro a vós outros. Não devem os filhos entesourar para os pais, mas os pais, para os filhos. 15  Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma. Se mais vos amo, serei menos amado? 16  Pois seja assim, eu não vos fui pesado; porém, sendo astuto, vos prendi com dolo. 17  Porventura, vos explorei por intermédio de algum daqueles que vos enviei? 18  Roguei a Tito e enviei com ele outro irmão; porventura, Tito vos explorou? Acaso, não temos andado no mesmo espírito? Não seguimos nas mesmas pisadas?” (2 Coríntios 12:13-18 RA)

“6  Também jamais andamos buscando glória de homens, nem de vós, nem de outros. 7 ¶ Embora pudéssemos, como enviados de Cristo, exigir de vós a nossa manutenção, todavia, nos tornamos carinhosos entre vós, qual ama que acaricia os próprios filhos; 8  assim, querendo-vos muito, estávamos prontos a oferecer-vos não somente o evangelho de Deus, mas, igualmente, a própria vida; por isso que vos tornastes muito amados de nós. 9  Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamamos o evangelho de Deus.” (1 Ts 2:6-9 RA)

“8  nem jamais comemos pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós; 9  não porque não tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes.” (2 Ts 3:8-9 RA)

“Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.” (1 Coríntios 11:1 RA)

Enfim, mesmo quando Paulo diz que teria direito de ser sustentado, no mínimo para suas necessidades mais essenciais, afirma que abriu mão disso para nos dar exemplo a ser imitado. Por essa razão, ainda não me sinto à vontade quando vejo pastores vivendo em alto estilo de vida às custas do evangelho.

Deixo, agora, uma palavra de Jesus para sua meditação:

“25 Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. 26  Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; 27  e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; 28  tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mateus 20:25-28 RA)

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pastor Sólon.

 

 
 

 

 

 

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