Carta 172

27/09/2011 16:09

27 de setembro de 2011 21:38

Assunto: Ajuda!

Pr. Sólon Lopes Pereira bom dia, atualmente sou membro da ICM, na cidade de (...) no estado do Espírito Santo. Por volta de (01) um ano, venho orando ao senhor para que de Deus dê um sinal para que eu possa tomar uma decisão, que é meu desligamento da ICM. Venho notando que o que se prega no manaain nunca, em muitas das vezes, não são postas em pratica nas igrejas de minha cidade. Portanto, venho não só eu como outros irmãos desanimando de Servir ao Senhor nesta igreja. Acho que Deus ouviu minhas orações. Eu, nos últimos 10 dias, recebi uma mensagem com um relato do Pastor Sólon. Isto então me deu um impulso naquilo que estou querendo decidir, que é me desligar da igreja, mas na hora em que sento para escrever meu comentário me foge tudo da mente me da frio na barriga, um medo me toma de tal forma que parece que o céus vão desabar em minha cabeça. Não consigo escrever nada. Me converti na Igreja Assembléia Deus em abril de 1990, onde pretendo voltar a congregar. Passei a congregar em 27 de junho de 1992 na ICM e tenho 18 dezoito anos de membro. Sou diácono e tenho família formada na igreja. Todos são usados pelo Senhor. Não estou me sentindo bem servindo ao Senhor mais na ICM. A razão humana tem aos poucos tomado conta de tudo. Ao ler sua carta me senti forte para lhe pedir uma ajuda. Não consigo digitar uma carta de desistência da ICM. Venho lhe pedir uma porção de contribuição em me ajudar a digitar uma correspondência ao presbitério e à minha coordenação informando meu desligamento. Não há possibilidade de continuar. O que se prega no manaain não se vive mais nas igrejas. Gostaria de contar com sua colaboração. Desde já agradeço. Caso não dê, entenderei.

Nome > JOÃO

Tempo de serviço na igreja ICM: 18 anos

Família completa na igreja: somos 04 membros

Motivo: decepção com os fatos e atos da igreja

Não se vive o que se prega

 

De: Site Celeiros

Para: JOÃO

Data: 28 de setembro de 2011 13:47

Assunto: Ajuda!

Prezado JOÃO, que a paz do Senhor Jesus seja com a sua casa.

Meu querido irmão, permita-me ser bastante sincero com você. Se entendi bem, a única razão que o faz pensar em mudar de igreja é porque “o que se prega no manaain não se vive mais nas igrejas”. Não sei se você se refere à sua liderança local ou aos membros em geral que não estão mais fazendo o que é ensinado nos Maanains.

 

Amado, isso não é razão para você mudar de igreja.

Ao que percebi, você acredita que os ensinamentos do Maanaim da ICM são exatamente o que deveria ser seguido por uma igreja. É isso? Se sim, preciso lembrá-lo que 90% do que se ensina nos Maanains da ICM você não encontrará em nenhuma outra igreja, seja em relação à doutrina, seja em relação à escatologia, seja em relação às práticas diárias etc. Talvez, haja uma pequena coincidência no que se refere aos ensinos históricos, que são limitados a poucas partes da história bíblica e, mesmo assim, muito superficiais.

Então, se você sair da ICM e for para a Assembleia de Deus, como você disse, terá o mesmo problema. Afinal, os assembleianos não vivem o que é pregado nos Maanains da ICM.

Mas, se o problema é a falta de honestidade daqueles que ensinam uma coisa e fazem outra, suponho que a questão esteja relacionada à liderança, pois somente os líderes da ICM pregam em seus Maanains. E se essa liderança é dissimulada, então o problema está no caráter desses homens e não no ensino deles.

“2 Na cadeira de Moisés, se assentaram os escribas e os fariseus. 3 Fazei e guardai, pois, tudo quanto eles vos disserem, porém não os imiteis nas suas obras; porque dizem e não fazem. 4 Atam fardos pesados e difíceis de carregar e os põem sobre os ombros dos homens; entretanto, eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. 5  Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas. 6  Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, 7  as saudações nas praças e o serem chamados mestres pelos homens.” (Mateus 23:2-7 RA)

Amado, você tem a opção de não imitá-los. Faça apenas o que eles ensinam, se você acha que eles ensinam o que é certo. Logo, seu bem-estar só depende de você e não deles. Ou você não tem disposição para fazer o que eles ensinam, se é o certo?

Ora, se você não concorda com o que eles fazem, diga isso a eles. Seja sincero e verdadeiro. Diga ao seu Presbitério o que se passa em seu coração. Não seja como aqueles que discordam, mas ficam em silêncio para preservar seus cargos e sua posição dentro da instituição. Esses são acomodados, covardes e hipócritas. Agem com falsidade e só pensam em si mesmos. Não seja assim, querido! Lembre-se que você tem que ter o caráter de Cristo.

Veja como Paulo se posicionou quando discordou de Pedro, mesmo tendo Pedro certa preeminência, já que Paulo não teve, como Pedro, o privilégio de ser um dos doze discípulos que andaram com Jesus e ouviram seus ensinamentos face a face:

“Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a face, porque se tornara repreensível.” (Gálatas 2:11 RA)

Percebeu a ousadia de Paulo quando ele entendeu que Pedro estava errado? Paulo não fez uma reunião com um grupo à parte para se queixar de Pedro. Paulo não trabalhou para a queda de Pedro. Também, não ficou difamando Pedro para uns e outros.

Amado, dissimulação, falsidade e hipocrisia é uma atitude de quem tem caráter mal formado. Até no mundo dos incrédulos esse comportamento é reprovado, embora seja muito comum. Jesus não “passou a mão na cabeça” de hipócritas.  Ao contrário, reprovou com veemência a falsidade e a dissimulação. Vou citar apenas dois exemplos entre muitos:

“E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.” (Mateus 6:5 RA)

“17 Dize-nos, pois: que te parece? É lícito pagar tributo a César ou não? 18 Jesus, porém, conhecendo-lhes a malícia, respondeu: Por que me experimentais, hipócritas?” (Mateus 22:17-18 RA)

 Entretanto, se você está percebendo atitudes dissimuladas em sua igreja local, você deve levar o fato ao seu presbitério e não mudar de igreja. Veja que eu estou considerando que o problema que você citou é localizado, ou seja, só acontece na igreja local em que você está.

Sendo assim, converse primeiro com aqueles que você acha que estão vivendo uma mentira. Se eles não aceitarem sua palavra, reúna testemunhas do fato e tente conversar com eles novamente. Se mesmo assim não houver acordo, chame suas testemunhas e leve os detalhes do fato à instância maior de sua igreja. Não tenha medo, pois certamente o Presbitério Espírito Santense está comprometido com o que é ensinado nos seus seminários. Se você está com a verdade, o Presbitério promoverá os ajustes para que tudo seja conduzido segundo as orientações por ele próprio transmitidas.

Também, não tenha medo de represálias em sua igreja local. Se você está certo, ao lado da verdade, por que temer? Afinal, Deus não estaria ao lado da verdade? E se Deus está ao seu lado, de que você terá medo?

“O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O SENHOR é a fortaleza da minha vida; a quem temerei?” (Salmos 27:1 RA)

Quem deve temer são os hipócritas e dissimulados e não o justo.

“A vereda do justo é plana; tu, que és justo, aplanas a vereda do justo.” (Isaías 26:7 RA)

“Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” (Provérbios 4:18 RA)

Sim, eu sei que você pode estar receoso de ser considerado uma pessoa inconveniente e ver sua ascensão ao ministério bloqueada. Ainda assim, sugiro que você defenda a verdade. Pense bem: se você realmente tem um chamado de Deus ao ministério, o próprio Deus trabalhará para colocá-lo no lugar que Ele mesmo reservou para você. Afinal, será que algum homem pode impedir um desígnio de Deus? Lembre-se da história do profeta Jonas.

“Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem o impedirá?” (Isaías 43:13 RA)

Agora, amado, para que você não se precipite, tente responder as seguintes questões:

a)    Você concorda com a doutrina ensinada nos seminários da ICM?

b)     Você gosta da liturgia do culto da ICM?

c)    Você crê que Deus está no controle do Presbitério Espírito Santense?

d)    Você acha que as orientações advindas do PES estão ajustadas à palavra de Deus?

Se você respondeu afirmativamente a essas quatro questões, não saia da ICM. Provavelmente você não irá se adaptar em nenhuma outra igreja e vai acabar retornando humilhado e sem perspectivas de voltar a ser o que era antes.

Vou insistir: problemas de ordem local, de relacionamentos, de subordinação, de vaidades pessoais, de hipocrisia são comuns em qualquer agrupamento de pessoas, inclusive na igreja. Pelo menos nas que são formadas por homens. Se há nesta terra alguma igreja formada por anjos, não conte a ninguém, para que o homem não vá para lá contaminá-la.

Amado, se o problema que você conseguiu perceber não diz respeito à doutrina da ICM, as demais situações são comuns a todas as igrejas. Mudar não resolverá o seu problema.

Ademais, problemas relacionados ao caráter dos homens podem ser solucionados com oração, confronto sincero, conversa franca e denúncia, se for necessário. Veja o que Jesus nos ensina a fazer quando percebemos problemas semelhantes no meio da igreja:

“15 Se teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. 16 Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça. 17 E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano.” (Mateus 18:15-17 RA)

Jesus não nos ensinou a covardia. Não ensinou a tratarmos às ocultas os problemas de relacionamento entre irmãos. Antes, nos ensinou a praticar o confronto entre a verdade e a mentira; entre o certo e o errado; entre o justo e o injusto. Tudo isso “cara a cara” e não pelas costas. Tudo isso com sinceridade e amor, buscando “ganhar o que errou” e não com a intenção de destruí-lo. Franqueza, verdade, honestidade e coragem são as melhores receitas para se afastar a fofoca, o mal entendido e a dissimulação.

Deixar o erro prevalecer sem confrontar os que estão errando é um ato de covardia, que não é compatível com o caráter de Cristo. Se Jesus fosse um covarde, não teria enfrentado os fariseus e evitaria a morte de cruz. Mas, não foi isso que ele fez. Ele é o exemplo de coragem que devemos ter. Coragem não significa ausência de medo, mas superação do medo.

Todos os medos que você disse ter sentido eu também senti quando estava prestes a me insurgir contra o que eu achava errado. Entretanto, a minhas convicções eram tão fortes que eu estava disposto a sofrer por elas. Eu estava pronto até mesmo para morrer, já que diziam que os que fizessem o que eu fiz seria “comido por bichos”. Sim, mas a dor maior não seria a morte, mas o exílio social que estaria por vir. Não pense que é fácil ver todos os seus “amigos” virarem as costas para você “da noite para o dia”. Não pense que é fácil ver seus filhos, ainda crianças, serem rejeitados na escola por seus amiguinhos crentes por orientação de seus pais “crentes”. O pai da melhor amiga da minha filha, mudou-a de classe para não ter mais contato com minha filha. Ah! Isso dói! Mas, há alguns sofrimentos que não podem ser evitados, por isso devemos aceitá-los com coragem e fazer o que achamos que é certo.

Por isso, sugiro que você seja corajoso, não para sair, mas para se manifestar e defender o que você acredita que é certo, já que você acha que o problema da ICM não está na sua doutrina, mas na prática de pessoas que não a cumprem. Se você acha que há pessoas dissimuladas prejudicando a sua igreja, mesmo que sejam pastores, denuncie. Lembre-se do que Paulo ensinou a Timóteo:

“Não aceites denúncia contra presbítero, senão exclusivamente sob o depoimento de duas ou três testemunhas.” (1 Timóteo 5:19 RA)

Perceba que, se houver testemunhas, a denúncia deve ser feita e o presbitério deve aceitá-la. Se você fizer o que a palavra ensina, não tenha receio das consequências. Se você estiver com a verdade e mesmo assim for desacreditado e envergonhado, então saberá que há algo errado onde você está.

Meu amado irmão, mudar de igreja por causa de coisas pequenas e que podem ser corrigidas com confronto, sinceridade e verdade é uma inutilidade. A igreja para onde você pretende ir certamente tem problemas a ser tratados. Onde o homem está presente, há problemas a serem tratados. Homem é homem em qualquer lugar. Ainda estou para ver um lugar onde a vaidade e a disputa não estejam presentes. Não se iluda: igreja é um excelente ambiente para o desenvolvimento de vaidades humanas, seja ela de que denominação for.

Por isso, trabalhe sua própria vida para controlar a sua vaidade, a sua soberba, a sua arrogância, a sua prepotência, a sua ambição, a sua hipocrisia, a sua carnalidade e a sua malícia. Se você melhorar nesses quesitos, comuns a todos os homens, e estiver comprometido com a verdade, não se preocupe com esses mesmos vícios na vida daqueles que não querem emendar seus caminhos.

Repito: não mude de igreja por causa dessas coisas, pois você não encontrará um lugar isento dessas mazelas que fazem parte da natureza do ser humano, variando apenas no grau em que se manifestam.

No meu modo de ver, o que justificaria uma mudança de igreja não está entre as razões que você apresentou, por isso prefiro não atender ao seu pedido. Receio que você se arrependa e que, futuramente, fique vagando de igreja em igreja em uma eterna insatisfação, tentando encontrar a igreja perfeita até desistir.

O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o Senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz.

Grande abraço,

Pr. Sólon.